O medo do desconhecido sobre as condições do solo intimida o setor de energia eólica offshore a gastar mais do que o necessário ? Não mais. Sean Goodman e Matt Grove acreditam que as condições da subsuperfície estão se transformando e percebem os sinais de uma mudança de ânimo e oportunidades.
Como já observamos aqui anteriormente, 2023 foi um ano difícil para o setor de energia eólica offshore. Ocorreram cancelamentos inesperados de projetos, reduções de escala e reformulações, além de um leilão no Reino Unido com preço tão baixo que não atraiu nenhum interessado.
No entanto, nos últimos dias do ano, a posição mudou, e talvez de forma significativa.
Ficou evidente que o governo do Reino Unido repensou o preço que está disposto a pagar por parques eólicos offshore para gerar eletricidade. Em novembro de 2023, o valor inicial de £ 44,00 por MWh, que causou esse desinteresse pelo recente leilão, subiu mais de 50%, para £ 73,00, talvez como um sinal de que o Reino Unido reconhece a necessidade de apoiar o setor durante essa fase difícil. O Departamento de energia e neutralidade de carbono do Reino Unido declarou que fez a mudança “após uma extensa análise das evidências mais recentes, incluindo o impacto dos eventos globais nas cadeias de suprimentos”, e acrescentou que a reformulação de preços “ajudará a garantir que os projetos tenham preços sustentáveis e sejam economicamente viáveis”. *
(Em janeiro de 2024, a Carta europeia para energia eólica também parecia pronta para mudar o cenário da energia eólica offshore, mas falaremos mais sobre isso em um outro artigo).
Além disso, um dos compromissos mais firmes resultantes da COP28 foi um acordo entre quase 120 países para triplicar a energia renovável instalada no mundo até 2030. A energia eólica offshore é vista como um importante componente para atingir essa meta ambiciosa e promete um aumento substancial nos negócios, talvez até mais do que o setor esteja preparado para lidar atualmente.
E aí pode estar o obstáculo para alcançar o que deveria ser um 2024 mais confiante para o setor offshore. Ainda que novos negócios estejam se concretizando e o preço seja adequado, aumentar a produção para atingir essas metas será um enorme desafio. A expansão exigirá construções mais baratas, mais rápidas e mais sustentáveis, e nós acreditamos que isso só é possível com melhorias em tecnologia, dados e análises.
Redução de custos sem aumento de riscos
Houve uma época em que a resposta às incertezas sobre as condições do solo era adotar uma abordagem cautelosa da engenharia, optando por monoestacas maiores e mais profundas do que as circunstâncias exigiam. Sem as tolerâncias que teriam permitido que o setor desenvolvesse projetos com mais eficiência, esse excesso de engenharia garantiu certezas, mas afetou negativamente a eficiência, os custos e a agilidade da construção.
Mas o mundo mudou. Em primeiro lugar, o custo e o tempo necessários para projetar fundações nesse grau (como seguro contra incertezas) não são mais aceitáveis. A questão do preço, cada vez mais alto, dos materiais, da fabricação e do transporte precisa ser resolvida para que os parques eólicos offshore sejam lucrativos e façam as contribuições energéticas necessárias, principalmente porque esses requisitos podem exigir que a capacidade eólica (como parques eólicos e, possivelmente, as próprias turbinas) aumenta ainda mais.
E segundo lugar, simplesmente não é mais necessário fazer isso.
As mais recentes soluções da Seequent para análise de subsuperfície, incluindo nossa compreensão das condições do solo, em particular a natureza dos solos e sedimentos em que se cravam monoestacas, são muito mais detalhadas e esclarecedoras do que antigamente. Agora é possível verificar quais estacas serão mais profundas ou mais rasas, a estabilidade que elas podem oferecer, as áreas com maior probabilidade de fazer a estaca se deslocar e até mesmo a vulnerabilidade à erosão. É possível informar não só as dimensões e a massa das estacas instaladas, mas também moldar de forma inteligente seu tipo, projeto e posicionamento para otimizar a quantidade de aço necessária e, ao mesmo tempo, criar as fundações resistentes exigidas pelo setor.
Compreender melhor os solos e sedimentos das trincheiras e sua capacidade de dissipar calor também pode apoiar as suas escolhas sobre os materiais e a natureza dos cabos necessários e a que profundidade eles precisam ser instalados a fim de evitar rupturas e prolongar a vida útil.
O setor acredita que pode enfrentar o desafio?
Por fim, um estudo recente da consultoria de pesquisas Newton observou que a confiança entre os tomadores de decisões sobre energia eólica offshore era boa quando se considerava o crescimento evolutivo natural da energia eólica offshore no Reino Unido. Com 10 a 15 GW de desenvolvimento já financiados, 80% dos entrevistados tinham certeza da capacidade do país para atingir 30 GW até 2030.
Mas quando metas mais otimistas foram mencionadas, a confiança caiu rapidamente. Apenas 40% se sentiram igualmente positivos em relação à meta de 40 GW e, quanto à meta declarada do Reino Unido de 50 GW, apenas oito dos 200 tomadores de decisão entrevistados acreditavam que era possível atingi-la.
É verdade que as reservas que eles apontaram eram amplas e, às vezes, específicas do Reino Unido, desde a falta de capacidade portuária, de navios e de mão de obra até a incapacidade da National Grid de ser atualizada de forma suficientemente rápida.
No entanto, os projetos de redução de riscos (e uma melhor compreensão da subsuperfície é essencial para isso) também figuraram entre as principais prioridades de muitas empresas, e não é irracional que isso seja comum nas salas de reuniões em todo o mundo.
Alguns observadores também se perguntaram se, agora, o setor precisa de um pouco menos de empenho em inovações de longo alcance ou superação dos limites tecnológicos, e um pouco mais de foco na redução de custos e no máximo aproveitamento da tecnologia disponível.
Uma mensagem é clara: embora antigamente, quanto maior fosse, melhor era, hoje não precisa mais ser assim.
*https://www.gov.uk/government/news/boost-for-offshore-wind-as-government-raises-maximum-prices-in-renewable-energy-auction