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O gerenciamento de riscos relacionados ao solo é uma preocupação constante dos engenheiros geotécnicos. Há décadas, as equipes de engenharia estão cientes de como é importante compreender o solo para evitar surpresas desagradáveis mais tarde nos projetos.

Mas os dados relacionados a ações judiciais e estatísticas de extrapolação de orçamento contam uma história muito diferente; nem tudo está mudando.

A HKA, uma renomada empresa especializada em resolução de ações judiciais e disputas, analisou mais de 1.800 projetos ao redor do mundo (totalizando US$ 2,2 trilhões em CAPEX) e descobriu que pouco mudou em projetos de infraestrutura nos últimos anos.

De forma preocupante, o mesmo relatório constatou que o custo total dessas disputas excedeu US$ 91,3 bilhões, sendo que as dilações de prazo solicitadas por empresas contratadas ultrapassam 876 anos no total.

A pergunta-chave é: Por que a quantidade de ações judiciais relacionadas a condições inesperadas no canteiro de obras não diminuiu já que, atualmente, há tantas ferramentas e recursos disponíveis para compreender e divulgar os riscos relacionados ao solo? Sobretudo se considerarmos a vasta documentação de estudos de caso e as manchetes na mídia que mostram o que ocorre quando alguém não compreende os riscos antes de iniciar uma escavação.

Neste blog, vamos examinar detalhadamente por que o setor ainda enfrenta esses problemas recorrentes com ações judiciais e extrapolações de orçamento devido a condições inesperadas no canteiro de obras. Para compartilhar seu conhecimento especializado, temos:

  • Pat McLarin, diretor do segmento de construção civil na Seequent. Atualmente, Pat lidera a estratégia da Seequent para infraestrutura civil e participa do desenvolvimento de padrões abertos e da parceria de gêmeos digitais da Nova Zelândia para elevar o perfil das disciplinas geotécnicas em BIM e gêmeos digitais.
  • Randall Essex, consultor para construção de túneis conhecido no setor. Recentemente, na conferência sobre construção de túneis da América do Norte (North American Tunnelling Conference) deste ano, Randall recebeu o prêmio pelo conjunto da obra (Lifetime Achievement award), concedido pela Associação de construções subterrâneas (Underground Construction Association), em reconhecimento aos seus serviços prestados ao setor de construção de túneis ao longo de várias décadas.

Juntos, esses especialistas compartilham insights sobre por que esse padrão continua inabalável, avaliam a eficácia das ferramentas usadas por engenheiros geotécnicos e destacam as melhores práticas para melhorar os resultados dos projetos.

A exploração do campo é uma garantia econômica para identificar riscos relacionados ao solo que podem comprometer os projetos

O recorrente problema das ações judiciais e extrapolações de orçamento

Os projetos de engenharia geotécnica são inerentemente repletos de incertezas. Mesmo em distâncias pequenas, as condições do solo são imprevisíveis e podem variar significativamente. Muitas vezes, essa variabilidade leva a desafios inesperados durante a construção, pois resultam em ações judiciais por mais tempo e mais investimento nos projetos.

Pat McLarinCivil Segment Director, Seequent

Isso pode ser observado no relatório da HKA, que constatou solicitação de reembolso de custos em projetos em uma média superior a um terço do CAPEX comprometido nos projetos (33,6%), e os projetos geralmente ultrapassaram o prazo de entrega em quase 16 meses dois terços do cronograma planejado (67,1%).

Existem vários fatores comuns de riscos relacionados ao solo que continuam causando problemas.

Condições complexas do solo

As condições do solo podem ser notoriamente difíceis de prever. Variações na composição do solo, níveis de água subterrânea e propriedades das rochas podem afetar os resultados de projetos. E não facilitamos a nossa situação devido à evolução das nossas sociedades.

Randall EssexTunnelling Consultant

Mesmo com técnicas avançadas de modelagem, é impossível eliminar totalmente essas incertezas e evitar completamente os riscos relacionados ao solo. Os alinhamentos lineares para redes rodoviárias e ferroviárias precisam interligar as populações de maneira eficiente para oferecer um transporte sustentável. Isso significa que não podemos evitar atravessar vales de rios e cadeias de montanhas. Mas, para isso, é necessário construir pontes, túneis, aterros e taludes rodoviários em nossa infraestrutura. Consequentemente, surgem condições complexas e variáveis de solo e um aumento dos riscos relacionados ao solo que precisam ser identificados e reduzidos.

Aerial view of east London financial district of Canary Wharf Docklands circled by Thames river, with buildings illuminated by colourful sunset

Canary Wharf, Docklands, no leste de Londres, cercado pelo rio Tâmisa

Trabalho com dados limitados

Dados geotécnicos precisos e abrangentes são fundamentais para um gerenciamento eficaz de riscos. No entanto, coletar até mesmo dados básicos em levantamentos no campo é, com frequência, algo desafiador. Orçamentos restritivos e desafios relacionados ao acesso em ambientes urbanos devido à infraestrutura existente, como rotas ativas de tráfego, podem levar a uma abordagem minimalista nos levantamentos no campo.

Investir em uma exploração complementar do campo é uma garantia econômica para identificar riscos relacionados ao solo que podem comprometer um projeto, mas é necessário saber onde gastar o dinheiro.

Pat McLarinCivil Segment Director, Seequent

Um gerenciamento eficiente de riscos requer integração dinâmica de dados observacionais no modelo conceitual de área. Embora as equipes geotécnicas possam compreender os riscos, talvez outros profissionais de diferentes disciplinas não entendam. Quando realizado adequadamente, ele pode permitir melhores resultados explorando a maneira de gerenciar os riscos associados ao que é conhecido e ao que não é. Dito de outra forma, perigos geológicos podem existir em um modelo de solo específico e ainda assim não serem identificados nos levantamentos no campo. O desafio é avaliar continuamente o que é “previsível” buscando o que não sabemos que desconhecemos.

Dinâmica do setor

As dinâmicas contratuais e organizacionais do setor também desempenham um papel fundamental. Frequentemente, as práticas tradicionais de contratação repassam a responsabilidade de gerenciar os riscos relacionados ao solo para as empresas contratadas, que precisam “vencer” no ambiente competitivo de licitação. Propostas subcapitalizadas inevitavelmente levam a disputas. Os modelos de contratação colaborativa, em que os riscos são compartilhados e gerenciados coletivamente, têm melhorado os resultados dos projetos.

O que as empresas podem fazer para gerenciar os riscos relacionados solo e evitar extrapolar o orçamento

Embora existam muitos e complexos riscos relacionados ao solo a serem superados em projetos de engenharia civil, também há estratégias-chave que podem melhorar a forma como o setor resolve essas questões constantes de ações judiciais e extrapolações de orçamento. Veja alguns dos principais exemplos:

Melhoria na coleta e no gerenciamento de dados

Investir em tecnologias avançadas para coleta de dados e desenvolver protocolos padronizados podem melhorar a qualidade e a disponibilidade dos dados. Técnicas como geofísica e sistemas de monitoramento em tempo real, além de sondagens tradicionais e testes com penetrômetro, podem fornecer dados mais precisos e abrangentes, pois aumentam a eficácia das ferramentas digitais.

Randall EssexTunnelling Consultant

Colaboração interdisciplinar

Promover a colaboração entre engenheiros geotécnicos e equipes mais amplas de stakeholders é fundamental para desenvolver aplicações práticas e eficazes. As equipes integradas que trabalham em estreita colaboração, desde a fase de planejamento até a conclusão de projetos, são capazes de identificar e reduzir riscos de forma mais eficaz.

Formação e treinamento

Incluir cursos relevantes nos programas curriculares de engenharia e oferecer programas de desenvolvimento profissional pode fornecer aos engenheiros as habilidades necessárias para aproveitar as tecnologias do setor. Mentoria contínua, formação e treinamento garantem que os engenheiros permaneçam atualizados sobre as ferramentas e técnicas mais recentes para gerenciamento de riscos relacionados ao solo.

Pat MclarinCivil Segment Director, Seequent

O relatório geotécnico de referência

A adoção de modelos de contratação colaborativa, em que os riscos são compartilhados e gerenciados coletivamente, pode melhorar os resultados dos projetos e reduzir disputas.

Uma parte fundamental de uma abordagem de contratação colaborativa para gerenciar especificamente os riscos relacionados ao solo é o relatório geotécnico de referência (GBR, Geotechnical Baseline Report). Enquanto muitos projetos dependem exclusivamente de relatórios de dados geotécnicos (denominados relatórios de levantamentos geotécnicos em alguns países), que contêm apenas os dados medidos e pouca ou nenhuma interpretação, o GBR oferece uma interpretação contratual clara, concisa e de acordo com as condições da subsuperfície de referência.

As propostas são elaboradas com base nessas condições de referência, mas com a compreensão de que as condições reais do solo encontradas durante a construção podem variar em relação a elas. Como a subsuperfície é distinta e apresenta incertezas inevitáveis, os métodos tradicionais de contratação, como os usados para aquisição de equipamentos, são inadequados.

Em todos os projetos de engenharia civil, os GBRs são mais usados em escavações de túneis, cujos custos e prazos dependem em grande parte das condições do solo. No entanto, a abordagem tem sido aplicada a outros tipos de projeto de construção civil que envolvem subsuperfícies, como escavações a céu aberto, ferrovias de alta velocidade, grandes projetos rodoviários, pontes, geração de energia e instalações portuárias ou aeroportuárias. Gerenciar os riscos relacionados ao solo não se limita aos projetos de construção de túneis.

Randall Essex, especialista em ações judiciais relacionadas ao solo, foi fundamental no desenvolvimento de diretrizes para os GBRs como uma ferramenta para gerenciar e alocar os riscos geotécnicos.

Em meados dos anos 1990, estávamos escavando um túnel sob uma montanha de 1.200 metros na floresta tropical da Nova Zelândia com o equipamento que, na época, era considerado a maior tuneladora do mundo. O projeto enfrentou muitos desafios contratuais e relacionados aos stakeholders, como o primeiro a aplicar um GBR no país.

Randall EssexTunnelling Consultant

Nos EUA, o avanço dos GBRs ocorreu em paralelo com o desenvolvimento dos comitês de resolução de disputas (DRBs, Dispute Resolution Boards). Um entendimento comum era precificar as bases acordadas para licitação e, se as condições do solo fossem mais onerosas do que as indicadas no contrato, conceder à empresa contratada uma compensação adicional pelo trabalho extra era necessário. O GBR foi o ponto de partida e o DRB foi um meio eficiente de resolver disputas e, assim, evitar longas batalhas jurídicas.

Randall EssexTunnelling Consultant

Com linhas de base estabelecidas, o GBR ajuda a reduzir disputas e ações judiciais. Veja como ele pode ser usado de forma eficaz:

1. Análise de riscos

O GBR é, por natureza, uma medida de redução de riscos que responde a uma análise de riscos geológicos. Cada um dos riscos relacionados às condições da subsuperfície que foram identificados no registro de riscos de um projeto deve ser abordado no GBR, e os responsáveis por redigir o GBR devem participar da análise de riscos.

2. Definição de uma linha de base clara

O GBR deve definir claramente as linhas de base das condições físicas previstas, além do comportamento esperado do solo em relação aos equipamentos, técnicas e métodos usados pela empresa contratada. Ele fornece uma base comum para que todos os stakeholders possam controlar as expectativas.

3. Alocação de riscos

Com linhas de base claras, o GBR facilita uma alocação mais equitativa dos riscos. As empresas contratadas podem entender melhor os riscos que estão assumindo e precificar suas propostas sem contingências desnecessárias. Se ocorrer alguma situação inesperada na subsuperfície, o proprietário deve estar ciente de que precisará compensar a empresa contratada em caso de custos adicionais necessários. Como os riscos são compartilhados, as propostas não são inflacionadas.

4. Adoção de contingências

Os proprietários de projetos alocam fundos de contingência para serem usados se uma linha de base for ultrapassada. O recurso não é gasto até que a linha de base seja ultrapassada. Por haver fundos para contingências, há menos surpresas e recriminações.

5. Resolução de disputas

Caso haja condições inesperadas do solo, o GBR serve como um ponto de referência: o que era esperado versus o que foi encontrado. O GBR fornece um ponto de referência para determinar se as condições encontradas estavam dentro do esperado. Se ocorrer alguma disputa, ela pode ser resolvida de forma rápida com o DRB.

Randall EssexTunnelling Consultant

GBR eficiente

Um exemplo de uso eficaz de GBRs foi o túnel do porto de Miami. O porto de Miami é fundamental na economia da Flórida, e os túneis gêmeos rodoviários de 14 metros de diâmetro foram construídos para garantir acesso direto entre o porto e as rodovias I-395 e I-95 e, consequentemente, evitar congestionamentos nas ruas da cidade de Miami, além de manter a competitividade econômica da região. A tuneladora (TBM, Tunnel Boring Machine) encontrou uma condição de solo diferente na rocha hospedeira sob o canal de cruzeiros, e essa condição poderia resultar em má publicidade. No entanto, devido aos termos do contrato colaborativo, às linhas de base claras do GBR e a um processo eficaz do DRB, uma compensação adicional da ordem de dezenas de milhões foi concedida à empresa contratada. Mas essa compensação representou uma pequena parte da contingência que o proprietário havia reservado com base em uma análise detalhada de riscos.

Um exemplo de uso eficaz de GBRs foi o túnel do porto de Miami

O futuro das ações judiciais e extrapolações de orçamento na engenharia civil

Com o aumento das plataformas digitais para equipes de engenharia geotécnica, há uma oportunidade de aproveitar a tecnologia para alcançar melhores resultados, mas isso requer uma abordagem holística para gerenciamento de riscos. Embora os proprietários de projetos possam pagar por situações não previstas, é do interesse de todos gerenciar conjuntamente os riscos comerciais que podem se transformar em riscos de reputação. Todos os stakeholders precisam se preparar para o futuro em relação aos riscos que, eventualmente, podem afetar a reputação em decorrência da transferência de riscos comerciais.

Randall EssexTunnelling Consultant

Atualmente, é possível aproveitar a tecnologia para integrar os dados geotécnicos reais observados no campo a modelos geológicos de engenharia interpretados e análises numéricas para desenvolvimento de projetos e engenharia geotécnica, com um histórico auditável de revisões e aprovações que registra o que era conhecido, por quem e quando. Nesse contexto, é possível garantir melhor apoio à colaboração entre consultores, empresas contratadas e proprietários e, por fim, entregar uma infraestrutura melhor de forma mais previsível.

Enquanto as equipes geotécnicas se concentram em entregar resultados de qualidade para seus parceiros de projeto, elas também precisam responder às dinâmicas desse projeto. Mudanças no escopo são a principal causa de ações judiciais, e o relatório da HKA mostra que é cada vez mais claro que falhas no desenvolvimento de projetos frequentemente contribuem para problemas em projetos, especialmente quando combinadas com essas mudanças de escopo. Isso significa que as equipes geotécnicas precisam ser mais adaptáveis a mudanças.

Pat McLarinCivil Segment Director, Seequent

As soluções da Seequent permitem realizar levantamentos no campo, modelagens e análises para que você possa compreender as subsuperfícies e construir infraestruturas melhores. Fale conosco para conversarmos sobre os próximos passos na sua jornada digital da engenharia geotécnica.

Deixe-nos ajudar você a gerenciar riscos e extrapolações de orçamento em seus projetos de construção civil.

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